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1º Capítulo | Francisco de Assis, o maníaco do parque, de Ullisses Campbell (Matrix Editora)

Com o título “Nasce uma estrela”, as primeiras páginas da biografia do homem que, segundo o autor, violentou centenas de mulheres, começa a contar como o talentoso patinador do Ibirapuera seduziu suas primeiras vítimas em São Paulo / SP, sendo uma tática diferente daquela em que ficou conhecido e que as páginas policiais destacaram.



Após ficar conhecido pela sua trilogia “Mulheres Assassinas”, formada pelos livros que conta vida de Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Flordelis, o jornalista Ullisses Campbell lançou a obra que narra a vida de um homem que ganhou as páginas dos cadernos policiais antes do que essas criminosas. Francisco de Assis, o maníaco do parque (Matrix Editora), era conhecido entre os amigos dos patins como Chico Estrela.


Com grandes detalhes, característica do autor, o leitor conhece como o astro de um grupo de patinadores seduzia provavelmente as suas primeiras vítimas da grande São Paulo. E diferente das demais, pasmem, ele conhecia as moças e teve um relacionamento casual com uma delas, e a armadilha para levá-las para a morte era uma diferente da qual a mídia divulgou com força por ele ter praticado com a maioria e ficou conhecido.


O primeiro capítulo da obra abre com um trecho do depoimento do maníaco do parque em seu julgamento de 19 de agosto de 1998. Esses pequenos trechos estão na abertura de cada capítulo, mas as breves falas de Francisco, cerca de uma ou duas páginas, são sempre em momentos diferentes, ora uma entrevista ou uma conversa com psiquiatra, ou algo do tipo. Mas sempre falas públicas e/ou comprovadas do próprio criminoso.


Nesse primeiro trecho, Francisco conversa com o juiz José Ruy Borges Pereira, que interroga o motoboy sobre a criatura horrenda que o acusado diz morar dentro de si e que faz com que ele se transforme em um predador com uma força fora de sério. Fica a cargo do leitor acreditar ou não no que disse o homem que mentiu para seduzir tantas mulheres.


Depois, diferente de outras biografias, nessa não conhecemos a infância do biografado ou de seus pais, mas sim de uma das duas mulheres que o conheceram de perto e infelizmente caíram em sua lábia. Ambas têm seus tristes destinos narrados por Campbell neste primeiro capítulo, que por enquanto ainda não é mencionado como motoboy, apenas patinador. E mesmo com seus nomes trocados, conforme mencionado pelo autor na introdução, vale mencionar que aqui são chamadas de Marlene e Silvana.



A primeira, é de Irecê, interior da Bahia e após uma infância difícil e uma adolescência usurpada pelo trabalho escravo como doméstica de uma família rica em Salvador. Aqui, vale um parêntese sobre a escrita de Campbell, que relata que a moça era a empregada da família, mas nunca recebia nenhuma bonificação financeira, salário, pelos trabalhos exercidos de domingo a domingo. Após se cansar de servir uma sinhazinha, vem tentar a sorte em São Paulo com esperança de ser doméstica e ter direito a um salário, ou ao menos parte de um.


Na maior cidade da América Latina, a moça foi acolhida por sua amiga Valéria, as duas se conheceram no prédio em que Marlene havia sido escravizada. Em São Paulo, a moça rapidamente encontra um emprego e para conhecer a cidade, Valéria lhe apresenta um lugar que sempre ia para se divertir com amigos em momentos de lazer: O parque Ibirapuera. Grande point de amantes de bicicleta, skatistas e patinadores, esporte em que era apaixonada. Entre os amigos, havia um professor que dava aulas para iniciantes e era conhecido como Chico Estrela, pois era o grande destaque do local.


Com o tempo, Marlene e ele se aproximaram. Certa vez, a moça foi sozinha ao parque e aparentava tristeza, Francisco sabia exatamente o que dizer e o que fazer. Sua tática foi falar da beleza da moça que tinha a autoestima baixa, além de dizer que naquele dia ia em um shopping para uma competição de patins e que a moça poderia ir com ele. Mentira! Chico se dizia conhecido do pessoal e sabia que sempre precisavam de promotoras para o evento e poderia indicá-la.


Já a história de Silvana, é semelhante, mas um pouco diferente. Do interior de São Paulo, da cidade de Taubaté, e de origem humilde, ela vem morar com uma tia na metrópole visando trabalhar e entrar na faculdade de nutrição, seu grande sonho.


A jovem se inscreveu em um curso de datilografia e fez amizade com uma moça que praticava patinação no bendito Ibira, apelido popular do parque. Ambas se apaixonaram pelo maioral do local, Chico Estrela, e ele começou a flertar com Silvana. Rapidamente eles começaram a se relacionar, mas sem um compromisso sério.


Após um compromisso da jovem em que Francisco a acompanhou, usou a mesma isca usada com Marlene, uma competição de patins em um shopping da grande São Paulo. Precisando de dinheiro e na companhia de seu ficante, a jovem não tinha motivos para negar o convite.


Fez o mesmo trajeto com ambas: pegaram um ônibus, e desceram em uma rodovia. Em seguida, procurava por uma abertura em meio a um paredão, que ao passar, os levava ao parque do Estado, complexo de mata atlântica, na divisa de São Paulo com Diadema.


"Ela argumentou que já estava escurecendo e a mata lhe causava medo. Chico se curvou, virou-se rapidamente, pôs o braço para fora e puxou a garota suavemente pela mão para o lado de dentro. Assustada, ela pediu a sua bolsa, guardada dentro da mochila do patinador. Ele ignorou o pedido e começou a andar por uma trilha, em direção a um túnel de árvores."

p. 33


Após andar com a vítima por alguns minutos e ao avistar duas árvores, que ele acreditava serem pés de acaiacá, o amável Chico Estrela se transformava em um ser horripilante, com uma força descomunal e partia ao ataque das jovens sem nenhum motivo. Na sequência, dor e violência eram o que as moças sentiam ao ver seu futuro em São Paulo se acabar aos poucos até fecharem os olhos pela última vez. Enquanto isso, Chico não era mais Estrela, e sim, um maníaco que ao ver a cena, sentia prazer.


Esses foram os dois primeiros ataques do maníaco do parque, na mata do parque do Estado. Francisco comentou sobre os casos em entrevista dada ao jornalista Marcelo Rezende:



Logo no primeiro capítulo, vemos que Francisco mentia com facilidade, sem medo, arrependimento e compulsivamente para seduzir suas vítimas. O bom papo e o blefe, são presentes em um caso brasileiro mais recente. Na série documental Flordelis: Em nome da mãe (Max), o assistente de acusação da família de Anderson do Carmo, ex-marido da pastora, o advogado Angelo Máximo, diz em um dos episódios que a chance de alguém cair na lábia da mandante do crime que matou o pastor e título da série, são quase 100%.


Nas próximas páginas do livro sobre o Maníaco do parque, sempre com precisões de detalhes, é possível conhecer um pouco da família humilde de Francisco de Assis, os seus amigos de infância um pouco estranhos, como veio para São Paulo, o seu relacionamento com o avô conhecido como feiticeiro, mas na verdade um grande charlatão do interior de São Paulo, além dos casos que chocaram o Brasil e a luta pela captura que virou assunto de todos os jornais.


Agora, resta aos leitores apaixonados por crimes reais esperar o anúncio de quem será o próximo a ser investigado por Ullisses Campbell, trabalho que de tão minucioso, já deve estar sendo feito, e qual crime voltará as páginas policiais ao descobrirmos detalhes em uma nova biografia não autorizada.


Será que após o fenômeno da trilogia Mulheres Assassinas, o livro Francisco de Assis, o maníaco do parque será a abertura para obras sobre a vida de homens que cometeram crimes, foram julgados e condenados, e que chocaram o Brasil? Quem sabe conheceremos a fundo nomes como Lindemberg Alves, Roger Abdelmassih, ou Alexandre Nardoni?

 

Abraços Literários,


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