No livro "Se for para chorar, que seja de alegria", do grande autor nacional Ignácio de Loyola Brandão nos apresenta crônicas do dia a dia do autor e misturam sua infância, vida adulta e como ele está hoje em dia.
Antes de falar do primeiro capítulo do livro, ou melhor, da primeira crônica, quero abrir um pouquinho meu coração e te contar como a obra entrou em minha vida.
Em 2017, resolvi dar uma mega virada em minha vida pessoal, em especial na parte profissional. Foi o ano em que comecei o curso superior de Letras. No início, tudo foi bem difícil, afinal, tive que me adaptar a uma nova área, rotina, me enturmar com o pessoal, enfim.
Fui conhecer a biblioteca do Campus e em uma prateleira com os últimos livros que chegaram na faculdade e encontrei o livro do Loyola e me interessei. Li na mesma semana e amei e por vezes me identifiquei em algumas crônicas. E agora, quatro anos depois, releio o livro com um olhar ainda mais carinhoso pois o autor é uma das minhas referências de vida na escrita.
O livro abre com a crônica "Margô, 96 anos, quer saber: Como é beijar? Ela nunca beijou".
Com título que parece tema do programa Casos de Família, se me permita a brincadeira, ele apresenta sua tia Margô, uma senhora que nunca deu nem se quer um selinho que seja em seus mais de noventa anos de vida. Pode isso?
A curiosidade dela era imensa sobre o assunto e queria saber qual era o gosto de um beijo, como funciona o "língua para um lado, língua para o outro", se tinha cheiro, enfim. A curiosidade da velhinha era grande.
Acho que todas as pessoas se lembram de seu primeiro beijo. Aos casados, ou namorados, devem se lembrar do 1° beijo na pessoa amada. E até os "pegadores", ou as "piriguetes", devem lembrar a primeira vez que seus lábios tocaram de outra pessoa.
O autor fala que é algo um tanto quanto íntimo entre o casal, e não é que é mesmo? Minha avó dizia que quando era pequena, o beijo do casal, era dado só às escondidas, pois era algo de um para o outro.
A galerinha mais nova, compete na escola pra ver quem irá beijar primeiro e deixar de ser BV (Boca Virgem), e quem será o último do grupinho que vai ficar BVL (Boca Virgem de Língua).
Mas enfim, tia Margô estudava todas as teorias possíveis e observava os beijos dos filmes para saber como era essa tal intimidade e ao mesmo tempo, algo um tanto quanto cotidiana. Para todas as mulheres da família ela sempre fazia a mesma pergunta de como funciona o o beijo e o que se sentia.
" 'Como é beijar?' É o bordão, refrão, interrogação constante, questão essencial para ela, assim como outros indagam se Deus existe, o que é a vida, o que vem depois da morte,
se há vida em outros planetas, quem inventou a esquina, se Lava Jato vai virar pizza, se
o Lulinha é dono da Friboi, se botox e silicone devolvem e a juventude e se os 7 a 1
serão esquecidos."
p. 11
Imagino aquele tio chato que todo mundo tem, que nos churrascos de família pergunta pra uma criança de sete anos: "E as namoradas?", e pro carinha de 14, que leva a primeira namorada para apresentar pra família: "Quando vai casar?". Tia Margô devia importunar todas as mulheres com essa pergunta e ser a "tia curiosa" da história.
O autor narra ainda, um pouco sobre a infância e adolescência da tia, que não foi fácil, mas que hoje, chora com os parentes de alegria para descobrir qual o grande mistério de beijar na boca!!!
O livro é dividido em sete partes e seu valor é tão rico e ao mesmo tempo com uma leveza típica do Ignácio de Loyola Brandão, um dos meus autores favoritos, que em entrevistas e já ouvi de pessoas de seu convívio, é um tanto quanto divertida igual escreveu nessa obra lançada em 2016.
No ano em que foi lançado, o escritor completou 80 anos e se deu um grande presente, publicar "Se for pra chorar que seja de alegria". Em 2021, ele completa 85 anos, será a vez de uma nova publicação para seus leitores?
Se for pra chorar que seja de alegria
Autor: Ignácio de Loyola Brandão
Editora: GLOBAL
Formato: 16 x 23 cm
184 páginas
1ª edição | 2017
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