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Jovem em Destaque | VICTOR FERREIRA | Ator


Vindo da escola pública, o curitibano Victor Ferreira dá vida ao estudante Arthur em Use Sua Voz, disponível na HBO Max. Na série, o personagem é portador do espectro autista desde a infância. E depois de se identificar muito com o personagem e se deparar com as características da TEA, o rapaz procurou por profissionais da saúde e foi diagnosticado com a mesma síndrome do seu personagem.


"Eu sou autista. Isso não é um problema, é uma característica minha. Eu tenho vivido com muito mais liberdade para falar sobre essas questão e para falar sobre o TEA."


Além de superação, falar de Victor Ferreira é falar de talento. E foi sobre isso e outras coisas mais que quis saber no bate-papo que tive com esse grande #JovemEmDestaque:


Eliaquim Batista: Victor, para começar a nossa conversa, quero saber como foi a sua entrada no mundo das artes. Foi em Curitiba mesmo?

Victor Ferreira: Sim. Quando eu tinha mais ou menos uns 13 anos, meus pais me matricularam no Centro Juvenil de Artes Plásticas, na modalidade de Teatro, porque minha irmã gêmea queria fazer Teatro. Ela sempre teve um sonho de infância de atuar no audiovisual e, por consequência, eu entrei junto nesta escola pública de artes, voltada à arte-educação para crianças e adolescentes, com modalidades diversas além do Teatro, como Desenho, Modelagem, Audiovisual, Fotografia, entre outros. Um lugar bem completo e com o fomento artístico muito confortável para permanecer por lá. Então, esse foi o meu primeiro contato com o Teatro, mas sem nenhuma pretensão profissional.

A minha primeira pretensão profissional ocorreu também em Curitiba, em 2019, durante a gravação do meu primeiro curta-metragem, “Presente”, uma produção do Sesi Cultural. Foi a primeira vez que meus olhoso brilharam para a atuação como uma profissão.

Eu já desenhava antes, era uma coisa de infância, e eu sempre fui próximo das artes, mas sempre como um hobby. Além de desenhar, já tinha feito parte do coral, em 2018, e contato com o projeto de pintura do Colégio Estadual do Paraná, quando estudaba por lá. Eu fiz um quadro que acabou ficando por duas semanas em exibição no Museu Oscar Niemeyer. Eu sempre tive essa proximidade das artes, mas nunca com esse objetivo de ser uma profissão ou de fazer arte para além da minha pessoa.


Eliaquim Batista: E qual foi o caminho até você chegar na série Use Sua Voz? Digo a fase de testes, os desafios, até a escolha do elenco. E quando soube que seu personagem era autista, o que achou do desafio?

Victor Ferreira: Eu recebi este teste da minha agência de São Paulo e estava em uma semana muito corrida. Eu tinha recebido outros três testes para séries e longa-metragem. Então, era estudar um texto em um dia e no outro enviar o vídeo da audição. E com “Use Sua Voz” não foi diferente.

Eu recebi a descrição do personagem e da série e, logo de cara, foi um encanto. Não estava escrito que o personagem era autista, mas pelas características descritas, percebi alguns traços e isso foi uma informação que nem todo o elenco haviam notado. Normalmente, a gente recebe meia página da descrição de um personagem e o Arthur tinha três, que falavam sobre seus gostos e algumas de suas características. Então, eu tive muito conteúdo criativo para preparar esse teste.

Eu percebi que “Use Sua Voz” já tinha um carinho artesanal e um cuidado com tudo que seria feita. Seria uma série bastante cartesiana, no bom sentido. Eu enviei o teste e fiquei muito apegado ao personagem. Eu achei que não fosse passar porque eu tinha mandado um vídeo muito longo.

Demorou mais ou menos 1 mês e eu recebi a chamada para fazer o segundo teste, agora presencial, em São Paulo, na sede da Floresta (Produtora da Série). Eu recebi um roteiro e tive uma semana para me preparar. Lá na capital paulista, testei com mais 4 atrizes, que estavam tentando o papel da Yasmin. Uma delas, foi a Mica D Fuego, que foi a selecionada.

“Use Sua Voz” é uma série em que os atores também são cocriadores desses personagens. A direção dá bastante espaço criativo para que a gente não fique fechado em “caixinhas”, respeitando também o roteiro e o que cabe e o que não cabe para esses papeis. O primeiro teste foi improvisado e, no segundo, eu e a Mica propomos um improviso em cena, no último take. Depois disso, a produção teve uma reação bastante positiva e eu fiquei ainda mais esperançoso por esse personagem. Praticamente foi isso, foi um processo muito gostosinho e que envolveu muita expectativa e acolhimento.



Eliaquim Batista: E foi a partir do seu personagem que você se identificou com sintomas de autismo. Como foi esse processo de suspeita do transtorno a partir do seu personagem? E como tem sido desde o diagnóstico?

Victor Ferreira: Quando eu recebi o primeiro teste para o Arthur, eu já suspeitava que eu estava dentro do Transtorno do Espectro Autista. Essa era uma hipótese que eu carregava comigo desde o final de 2018 e que nunca tinha tido coragem de ir atrás. Até porque, às vezes, a gente passa por uma coisa chamada “Síndrome do Impostor”, já que tem dias que eu “pareço” autista e dias que não. O Autismo é um espectro, então ele é diferente para cada dia de pessoa.

Quando eu fui aprovado, comuniquei à produção e o elenco que eu imaginava que estava dentro do Transtorno.

O Arthur é um personagem cheio de desafios porque, para chegar em alguns dos seus estados corporais, era sempre mais delicado. Tanto para entrar no personagem, quanto para sair dele.

Depois de viver o Arthur, que sabe que é autista desde o começo da trama, eu percebi que ele vivia com muita liberdade, era criativo do jeito dele e que tava tudo bem. Saindo desse personagem, notei que eu voltei a ter uma trava que quando eu vivia o Arthur, eu não tinha. Fui atrás de uma neuropsicóloga, fiz os exames e fui diagnosticado com autistmo e altas habilidades e superdotação. Foi um alívio. Era uma coisa que eu suspeitava, mas não tinha certeza. Depois disso, parece que as coisas ficaram, não mais fáceis, mas eu não tinha mais essa dúvida de ser ou não ser autista.

Eu sou autista. Isso não é um problema, é uma característica minha. Eu tenho vivido com muito mais liberdade para falar sobre essas questão e para falar sobre o TEA.

Também é muito legal de ver como o Arthur me influenciou e como ele está influenciado as pessoas, de uma forma positiva, que estão assistindo ele e que, depois, vêm falar comigo sobre autismo e neurodivergências.


Eliaquim Batista: E sobre a Use a Sua Voz, o que você achou da série e de sua atuação depois do lançamento? Como tem sido a recepção do público depois da estreia?

Victor Ferreira: Essa é uma pergunta complexa. Sempre que eu assistia pela primeira vez os episódios, eu não conseguia entrar na história. Eu ficava bastante eufórico em assistir e pegar as referências, que eu acabava não embarcando na trama. A gente sempre pensava sobre os cenários, sobre como e quando a produção havia desmontado eles há algumas semanas, ou sobre a ordem das gravações. Assistindo pela segunda vez, conseguia aproveitar mais e ver como “Use Sua Voz” ficou muito mais bonito do que eu estava visualizando quando estava no set.

Eu fico feliz com a minha atuação e com o Arthur, porque eu consigo distanciar bastante ele de mim, consigo ver uma pessoa bem diferente de quem eu sou. Por mais a gente tenha muita coisa semelhante, ele tem uma voz diferente, um corpo diferente, um olhar diferente e isso me deixa bastante satisfeito como ator.

É muito gostoso ter essa recepção do público, porque USV (Use Sua Voz) tem muita carinho da produção e do elenco. Ver as pessoas compartilhando desse sentimento, mesmo sem terem vivido isso no set de filmagens, e percebendo que tudo foi feito com muito carinho, muito amor e talento.

A cada pessoa que vem falar comigo sobre a série, é sempre como se eu estivesse visitando de novo esses lugares de conforto, alegria e leveza.



Eliaquim Batista: E seus próximos passos carreira já estão marcados? Já tem alguma novidade para seus fãs?

Victor Ferreira: Olha, eu acho que fãs é um termo muito novo para mim. Tenho alguns projetos que devem sair em breve. Vou falar de um curta-metragem, o “Alcunha em Chamas”, que eu protagonizei. Ele é um filme experimental, artesanal e bem subjetivo e, acredito, que logo postarei sobre como será o lançamento.

Também tem um outro filme que eu fiz, o “Todos os Inscritos de Ness”, que já lançou, mas que está passando por vários festivais e conquistando prêmios. Ele passou no SACI – Festival Internacional de Cinema Infantil, e venceu no Juri Popular. É uma produção que deve rodar por mais um tempo nos circuitos e, quando vocês tiverem a oportunidade, assistam porque vale muito a pena.

Também tem uma série, “O Som da Sua Voz”, que eu fiz aqui em Curitiba. Eu interpreto um personagem bem cômico, bem diferente do Arthur. Acredito que até o fim do ano, começo do próximo, já estará disponível.

E o último passo projetado, por enquanto, é uma companhia de teatro que eu formei junto com outros três atores com o objetivo de mesclar linguagens artísticas. Serão peças bem diferenciadas, que devem rodar por Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, que prometem surpreender na linguagem, com música, teatro, cinema, dança, tudo dentro de um único espetáculo. Por enquanto, é só isso que posso falar, pois estamos em processo de formação criativa para o nome e a concepção das peças. Mas, será em breve.

Eliaquim Batista: Dei uma stalkeada no seu Instagram e vi que também é um baita desenhista, estou certo? Dessas poucas pessoas sabiam. (Risos).

Victor Ferreira: Desenho é uma coisa que está comigo desde sempre, foi a arte que eu tive mais proximidade até conhecer o Teatro. Durante minha pré-adolescência e adolescência acabei parando de desenhar, não sei exatamente por qual motivo.

Voltei a desenhar por uma necessidade. Quando comecei a atuar quase diariamente, eu senti a atuação como minha arte principal, mas que eu também precisava de outra arte que não fosse a minha profissão, apenas para extravazar as minhas ideias. Todos os desenhos que eu faço hoje não têm planejamento algum. É o processo de eu pegar uma folha de papel, começar a rabiscar e alguma coisa surge disso, com alguma uma inspiração, ou sem ideia alguma. Então, o desenho é uma arte que eu faço sem pensar, com algumas partes de mim que, naquele momento, nem eu entendia, sendo bem subjetivo para mim.

Atuar e desenhar são as artes que me deixam em equilíbrio criativo. Eu acabo postando poucas coisas que eu desenho, porque elas são bem pessoais. Mas é algo que eu ainda estou amadurecendo internamente para decidir o que eu posto, o que apresento para o público. Acho que é isso, é um pouco mais difícil para eu formular algum pensamento sobre os meus rabiscos.


Eliaquim Batista: Victor, muito obrigado pelo papo, você é uma pessoa super do bem e para terminar, deixe uma mensagem para o pessoal aqui do blog.

Victor Ferreira: Muito obrigado pelo espaço. Foi muito bom falar sobre “Use Sua Voz”, os desenhos e meus outros espaços criativos que logo devem chegar por aí. Espero que o Arthur seja um personagem para as outras pessoas, assim como foi para mim. E fiquem de olho nos novos projetos, como a nova série “O Som da Sua Voz”, “Alcunha em Chamas” e, principalmente, da nova companhia de teatro que irá surgir no ambiente artístico e espero que seja tão marcante quanto USV.


Espero que tenham gostado da conversa que tive com o Victor e que conheçam ainda mais da carreira desse grande ator. Por isso, comece a seguí-lo no Instagram: @victorferreira.mp3


Abraços Literários,


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