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Papo com Escritor | RUBENS IVAN SIMONETTI | Autor de O Muro e o Furo (Giostri Editora)

Médico por formação, Rubens Ivan Simonetti sempre viveu entre os livros e agora encara o seu lado escritor com o romance O Muro e o Furo (Giostri Editora), um livro que acontece durante a Ditadura Militar brasileira.


"Decidi fazer uma visita aos 'anos

de chumbo' quando me dei conta de que

um pedaço significativo daquela

realidade, da qual participei, representa

um passado que surpreendentemente

ainda está vivo!"


Conta Rubens durante a entrevista.


O médico e psicanalista sempre gostou de escrever histórias curtas, ganhou o Prêmio "Museu da Medicina / Nissei", 1° lugar na Categoria Conto, em concurso literário promovido pela Associação Médica do Paraná. Seu livro O Muro e o Furo, está disponível no site da Giostri Editora (clique aqui para adquirir).


Vamos conferir o Papo com o Escritor Rubens Ivan Simonetti e conhecê-lo melhor:


Eliaquim Batista: Profissionalmente você é médico e teve como foco a medicina comunitária. Como você optou por essa área tão bacana da medicina? Você tem alguma história que nunca esquece que passou durante a sua carreira?

Rubens Ivan Simonetti: Vou responder primeiro a segunda parte de sua pergunta. A história que vou

contar aconteceu há algumas décadas, quando eu ainda era um jovem médico recém formado.

Conheci Ana e o bebê seu irmão quando a mãe das duas crianças se tornou minha paciente. A mulher comparecia regularmente para consultas no Posto de Saúde onde eu trabalhava. A família morava num acampamento dos sem-terra que ficava numa zona rural um tanto distante da sede do município e ela aproveitava a viagem e trazia seu garoto de seis meses para avaliação em nosso Departamento de Puericultura. Ana vinha sempre junto. Ela era uma menina meiga, calma, tinha em torno de nove anos, um corpo delgado e suave semblante.

Logo percebi o quanto Ana amava o irmãozinho, sempre demonstrando carinho para com ele, uma imensa ternura e preocupação com seu bem estar. Mal conseguia segurar o bebê em seus braços finos, mas tornava-se forte para aconchegá-lo junto ao peito e ficava com brilho no olhar, sorridente e faceira. Seus sentimentos pareciam ir além do natural afeto que existe entre irmãos.

Um dia compreendi tudo depois de um relato da mãe das crianças.

Aquele pequenino tinha nascido no inverno passado, numa madrugada de chuva gelada e quando a mãe de Ana sentiu as primeiras dores do parto e a água tamborilava sobre a lona que servia de teto para a barraca do acampamento onde ela estava. No local não havia um veículo que pudesse conduzir a mulher até o hospital da cidade. Naquela época o celular ainda era uma novidade para poucas pessoas e ninguém ali possuía um aparelho daqueles.

A natureza não espera quando trata de cumprir seus desígnios e logo se viu que o parto aconteceria ali mesmo. Algumas mulheres do acampamento se juntaram para acudir e acomodar a parturiente em seu leito rústico, tentando amenizar seu desconforto e sofrimento e ajudar a mulher a dar à luz sua criança. Força de expressão, já que a única luz existente era a chama de um velho lampião movido a querosene!

Na correria daquele momento, todos ignoraram a presença de Ana, que se ajeitou quieta num canto, mas tudo vendo e a tudo assistindo. Tensa, ela não se mexeu com o passar das horas. Sofreu junto com sua mãe enquanto o parto avançava. Segurou a respiração e arregalou os olhos quando viu o bebê coroar. Mas quando finalmente ele chegou ao mundo ela saltou de onde estava e como uma faísca surpreendeu as mulheres, surgindo de repente entre elas oferecendo os braços para ajudar a segurar criança ainda presa ao cordão umbilical.

Um choro forte saudou o amanhecer!

Histórias como a de Ana me sensibilizam. Gosto de conhecer gente como ela e tenho simpatia por pessoas como as retratadas acima. Muitas precisam de ajuda. Como médico sempre posso dar a elas alguma contribuição. E creio que isso responde a primeira parte de sua pergunta, sendo essa a razão pela qual me decidi pela Medicina Comunitária.


Rubens Ivan Simonetti, autor de O Muro e o Furo (Foto: Arquivo pessoal)


Eliaquim Batista: Mas fora a carreira na medicina, você sempre teve um “pezinho” na literatura, estou certo? Como o mundo dos livros esteve presente na sua vida?

Rubens Ivan Simonetti: Tive o prazer de crescer em uma casa cheia de livros. Antes mesmo de alfabetizado vivia folheando algum volume, principalmente de enciclopédias, à procura de desenhos e fotografias. Depois continuei remexendo nas estantes e viajando por dentro das histórias que lia.


Eliaquim Batista: No seu livro O Muro e o Furo, encontramos a Ditadura Militar como pano de fundo da narrativa. Por que escolheu os “anos de chumbo” como período histórico do seu romance?

Rubens Ivan Simonetti: Decidi fazer uma visita aos “anos de chumbo” quando me dei conta de que um pedaço significativo daquela realidade, da qual participei, representa um passado que surpreendentemente ainda está vivo!

Uma das intenções da narrativa é justamente convidar o leitor a refletir sobre alguns aspectos e situações que fizeram parte do contexto social daquele tempo e que estão presentes no Brasil da atualidade, polarizado e com sua democracia por vezes na corda bamba.



Eliaquim Batista: Pode então falar brevemente sobre o livro?

Rubens Ivan Simonetti: Muitos romances juntam ficção e realidade, principalmente obras de época. É o caso desse livro. No Muro e o Furo a ação é baseada em alguns fatos verídicos que podem ser facilmente comprovados. Contudo um segmento importante da história é ficcional. Acredito que essa mistura é o que instiga a curiosidade e mobiliza a imaginação do leitor.


Eliaquim Batista: E você já tem novos projetos literários na gaveta ou no processo de escrita?

Rubens Ivan Simonetti: Sim. Estou terminando uma seleção de contos.


Eliaquim Batista: Rubens, foi um prazer conversar contigo, estou amando a leitura do seu livro e desejo muito sucesso pra você na vida como escritor!

Rubens Ivan Simonetti: O mesmo para você Eliaquim, minha próxima leitura será do seu livro Eu Sou

Yanka. Para mim também foi um prazer essa entrevista.



Abraços Literários,


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