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Resenha | "Entre amar e morrer, eu escolho sofrer" de Sacolinha


Da "Coleção 2020 - Ensaios sobre a pandemia", da Editora Todavia, "Entre amar e morrer, eu escolho sofrer" é o novo trabalho do escritor Sacolinha. A obra é um conto que acontece em uma comunidade carente de São Paulo. O autor não é cita o nome do bairro, pois pode acontecer em qualquer um do subúrbio paulista.


Os cenários da "love history", são aqueles que todos os bairros humildes da cidade de São Paulo tem por natual: Boteco, baile funk, boca de fumo, casas, centros de religiosidade africana, associação do bairro, entre outros.


O conto acontece durante o momento atual que o Brasil e o mundo sofrem: a pandemia. E é protagonizado por duas pessoas que de alguma forma sofrem com o novo vírus.


Nossos heróis, e fazem jus a este nome, são Malú, jovem ativista do movimento negro e formada em história. E Bibiano, artista plástico de destaque no bairro.


Com a situação atual, ela, perde a mãe vítima da nova doença. Ele, é infectado pelo novo coronavírus.


O artista urbano, está depressivo devido o fim de um namoro de longa data e usa da arte para mostrar o amor que ainda guarda no coração. E assina sempre como Bi²ano em suas artes de desabafo.


Já a moça, ainda de luto, vê que é hora de fazer algo pela comunidade, pois várias pessoas estão perdendo seus empregos, os ambulantes, empregadas domésticas, pintores, entre outros, não tem mais de onde tirar sua renda.


"Cogitou gritar para os moradores que aquela doença era coisa séria. [...] Não teve forças. O máximo que saiu de sua boca foi 'Vão pra casa, gente!'[...]" p. 8

Bibiano, passa por um momento difícil, pois além de estar doente da alma, agora também do corpo, com suspeita de COVID-19. Ele decide se entregar de uma vez por todas e não aceita ir para o hospital.


Com ajuda do traficante do bairro, Malú, que o conhece de longa data, a moça monta um força tarefa para ajudar em diversos pontos da comunidade. É a união entre das pessoas de bem, com o "povo do crime", em busca do bem de todos.


"Pois é, Eri, mas o governo tá pouco se lixando pra gente. Onde estava o governo quando seus pais vieram do Norte pra tentar uma vida melhor? Onde estava o governo quando seu pai morreu na construção civil e a sua mãe tinha que acordar às três da manhã todos os dias pra trabalhar e você ficava sozinho em casa?" p. 11

Os médicos da brigada criada na comunidade, vão até Bibiano, que não quer aceitar ajuda médica ou ir até o hospital, o rapaz parece literalmente se entregar para as doenças (da mente e do corpo)


Com isso, Malú toma a frente e faz com que Bibiano vá para o hospital e assume como responsável pelo vizinho que ela conhecia apenas como vizinho, ou nem isso.


A partir daí, os olhares dos dois se cruzam e muita história ainda acontecerá pela frente onde o grande vilão é o mesmo do mundo atual, e o pior: ele é invisível.


Vários outros problemas sociais são tratados no livro como o não cumprimento da quarentena, a precariedade da saúde pública e as dificuldades financeiras que nasceram devido a pandemia.


O autor também traz diversas coisas boas que a comunidade fez, e que outros bairros podem fazer em suas regiões, como: Plantão médico local, uso da tecnologia e "vaquinha" para resolver diversos problemas financeiros e de comerciantes locais, além de arrecadação de alimentos e distribuídos para os desempregados.


Sacolinha é um autor periférico urgente e com seu novo trabalho, mostra as dificuldades e ao mesmo tempo as felicidades que acontecem nas favelas do Brasil. E ao mesmo tempo "Entre amar e morrer, eu escolho sofrer" é um grito para a sociedade que parece esquecer alguns bairros das grandes cidades.


O autor

Sacolinha (Ademiro Alves de Sousa) nasceu em São Paulo, em 1983. É formado em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Recebeu diversos prêmios por seus romances, livros de contos e crônicas. Atualmente realiza o projeto “Literatura e paisagismo – Revitalizando a quebrada”.


A coleção

Criada e produzida durante a pandemia de Covid-19, a COLEÇÃO 2020 — ENSAIOS SOBRE A PANDEMIA reúne autores e autoras que se dedicaram a refletir e a provocar o pensamento em livros breves, atuais e contundentes.


Por Eliaquim Batista

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