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Resenha O AR DE BERLIM, de Antonio Carlos Tavares de Oliveira (Editora Frutificando)

Em um livro que mistura o contexto histórico da Segunda Guerra Mundial e de vidas que sofreram repressão por sua condição social, religiosa ou heróis anônimos que lutaram pelo fim de uma das cenas mais catastróficas da história mundial, o nazismo. No livro O Ar de Berlim mostra aos leitores cenas que jamais devem se repetir em nossa humanidade.



"Ajudar um judeu no contexto da Alemanha atual era um risco muito grande"

pág. 24


Com uma leitura fluida e carregada de suspense, O ar de Berlim é uma obra rica em detalhes sobre o período da Segunda Guerra Mundial, além de técnicas de escrita que prendem o leitor do começo ao fim. A cada capítulo, Antonio Carlos Tavares de Oliveira apresenta o ponto de vista de um personagem, seja os de bom ou mau-caráter, o que faz refletirmos e raciocinarmos cada vez mais sobre cada entrave e cada virada da narrativa.


E dessas diversas visões de um mundo quase que dominado pelo nazismo, vemos um pai que busca na Europa o melhor tratamento possível para o seu filho. O diplomata brasileiro, General José Fernanda Miranda de Sá, mora com a família em Portugal, mas sempre viaja com o filho único para hospitais de Londres e Berlim com o objetivo de proporcionar uma qualidade melhor para Alexandre, portador de uma doença rara, sarcoidose pulmonar.


O rapaz é aparentemente magro e frágil, mas, ao mesmo tempo, é muito inteligente e justo. Aluno de Direito da Universidade de Coimbra, Alexandre logo se junta a um grupo que aparentemente luta contra o nazismo. Com isso, o seu número de viagens pelos países em que a narrativa acontece são bem frequentes.


As missões de Alexandre eram sempre orientadas pelo seu professor Paulo Santos, em Portugal, e seu médico, Dr° Jurgen, na Alemanha. Isso tudo, sem conhecimento do seu pai, pois ele seria obviamente contra a atuação do filho, visto as condições do Brasil, que se manteve a maioria do tempo neutro durante a guerra. Fora que, como um militar, teria um filho ativista contra o sistema regido por forças armadas, mesmo sendo opressor?


Durante seu tratamento na Alemanha, Alexandre faz amizade com o Karl Heinz, um judeu com a mesma idade do rapaz e a mesma doença respiratória. Ao aproximar-se da família do amigo, Alexandre conhece os tios do rapaz, com quem vive e trabalha. Proprietários de uma tradicional joalheria em Berlim, o casal tem três filhos: Otto, Anne e Helene, esta última por quem o brasileiro se apaixona quase que à primeira vista.


No decorrer das páginas e com os ares de Berlim cada vez mais difíceis para os judeus e demais grupos perseguidos pela ideologia de Adolf Hitler em busca da tal raça ariana, o jovem brasileiro não consegue mais realizar tantas missões como antes, visto que seus mentores estão sendo vigiados, mas que não o impede ajudar o amigo alemão.


"Minhas primas, as gêmeas Anne e Helene Heinz, deixaram de frequentar a escola, porque o perigo de sair nas ruas está crescente.. O preconceito com os judeus é imenso. Somos obrigados a usar uma estrela de Davi amarela costurada no braço com a palavra 'judeu' escrita dentro com tinta preta. Foi essa a forma para nos identificar como diferentes e de uma raça inferior."

pág. 14


E quando o regime de repressão se prolifera pelo país e a guerra fica cada vez mais intensa em Berlim, a família Heinz se separa inesperadamente, mas Alexandre consegue proteger Karl, que inocentemente o jovem pensa colocar em um lugar a salvo; e Helene, que o brasileiro esconde no hotel em que sempre se hospeda quando está em Berlim.


Com isso, diversas reviravoltas acontecem com cada personagem e nenhum deles continuará no mesmo lugar onde estava, além de inserção de personagens que tentam fugir da guerra e outros horripilantes a favor do sistema. Há também muitas mudanças de endereço, sofrimentos por perdas e algo muito importante para quem passa por uma guerra: nem tudo é o que parece e há necessidade de pensar muito bem em quem confiar em momentos como o do pano de fundo da história.

 

O Ar de Berlim em questões sociais e atuais



Questões infelizmente atuais também são abordadas no livro, algumas vezes de forma direta e outras vezes, mais discretas. Alguns exemplos são: posição política e familiar, gravidez precoce e confiança, além de alguns temas vistos como tabus, como orgias, torturas emocionais e físicas, escravidão e segregação de grupos sociais. Esses últimos são frequentes em regimes ditatoriais.


Uma delas, e que infelizmente precisamos ficar em alerta, é sobre famílias extorquidas para terem seus parentes livres da guerra e longe da Alemanha. Em boa parte da trama, quando personagens encontram adolescentes judeus e de famílias ricas, diziam que encontraram uma “mina de ouro”, ou um “cofre cheio de moedas” e que iriam tirar dinheiro daquela família até não poderem mais.


O assunto deve ser bem observado, visto os casos das guerras atuais, como Ucrânia e Rússia e Israel e Hamas, entre outros conflitos próximos de nós, como a Bolívia e Venezuela. No longa-metragem Crô – O Filme, mesmo sendo um filme de comédia, são retratadas as tristes realidades de pequenos campos de escravidão em nosso país.


E casos de extorsão são bem apresentados na série Round 6 (Netflix), onde uma personagem norte-coreana, Kang Sae-byeok (Jung Ho-yeon), sonha em tirar a família do regime da família Kim e para isso, mantém contato com um homem que promete levar a mãe da jovem para o sul em troca de dinheiro, são os chamados passadores, mas o espectador nota facilmente as falácias e o principal objetivo do personagem é a extorsão.


Mas brasileiros também têm sido mantidos em cativeiro pelo mundo, como o recente caso dos jovens Luckas Viana dos Santos e Phelipe de Moura Ferreira, que, conforme o portal Agência Brasil – EBC, estavam em situação de trabalho escravo após receberem promessas de trabalho na Tailândia, mas indo parar em Mianmar. Os rapazes fugiram de uma jornada de trabalho de cerca de quinze horas diárias e torturados quando não batiam metas estabelecidas. Os criminosos não chegaram a entrar em contato com a família, pedir resgate ou algo do tipo, mas é necessário ficarmos em alerta para ofertas de empregos dos sonhos e vida no exterior com abundância.

 

Um drama empolgante e bem construído

No livro, a boa pesquisa do autor é notável, ao apresentar temas do conflito das décadas de 1930 e 1940, como termos da Segunda Guerra Mundial, como os termos Gestapo e Luftware, a posição do Brasil durante o conflito, e as localidades da cidade de Berlim, que o autor descreve regiões, ruas e bairros com a mesma propriedade de um morador de anos das localidades.

 

Passamos por algo semelhante?

Por fim, ao observar as torturas realizadas no período da ditadura militar brasileira, bem relatada no filme Ainda estou aqui, na novela Amor e Revolução, e no livro O dia em que conheci Brilhante Ustra (Geração Editorial), de Alex Solnik, é óbvio que não chegamos aos campos concentração de extermínio nazistas (e graças a Deus), em que alguns personagens de O ar de Berlim passam, mas as torturas vividas e os líderes com coração de pedra e ódio sem limites, são muito semelhantes às vividas por personagens nas obras citadas.


"Os gritos de Otto no final do corredor eram alucinantes. Meu irmão estava sendo agredido de forma destemida. Cada vez que a sessão de espancamento silenciava, eu me apavorava, porque sabia que era uma questão de tempo até aqueles homens entrarem em minha cela. Eu tinha certeza de que seria a próxima. E certamente eu seria violentada."

pág. 43


Qual a comparação entre esses regimes autoritários? Ambos eram governos militares e antidemocráticos? Logo, sabemos muito bem como tal grupo se comporta ao tomar o poder político de um país, logo, O ar de Berlim mostra a corrupção do ser humano e quando forças armadas realizam posições de poder, elas acabam por exterminar através da valentia, aqueles que pensam diferentes do que eles propuserem.

 

O livro O Ar de Berlim, de Antonio Carlos Tavares de Oliveira está disponível para compra no site da editora Frutificando e na Amazon.


Abraços Literários,


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